"Epidemia de solidão masculina": um fenômeno nas redes sociais ou a solidão entre os homens é um problema real?

“Lamento informar que os homens não estão bem” – “Sinto muito ter que lhe dizer isso, mas os homens não estão bem”: é assim que começa um dos milhares de vídeos que abordam a chamada “epidemia de solidão masculina” entre os homens.
O termo é usado principalmente em plataformas como YouTube, Instagram e TikTok e, de acordo com o Google Trends, apareceu pela primeira vez em 2023. Em círculos antifeministas, a "epidemia de solidão masculina" é frequentemente usada para culpar a emancipação das mulheres pelo fato de os homens supostamente não conseguirem mais encontrar parceiras e, portanto, permanecerem sozinhos.
Karsten Kassner é cientista social e consultor político do "Fórum Federal para Homens". A organização atua em todo o país e se concentra no papel de meninos, homens e pais no trabalho político de igualdade de gênero. Ele também está familiarizado com o discurso na internet em torno da "epidemia de solidão masculina". O uso do termo "epidemia", em particular, sugere que o discurso é exagerado e impulsionado por interesses pessoais, e que suas inclinações políticas também derivam de uma persuasão machista e antifeminista, diz Kassner.
Então, a "epidemia de solidão masculina" é apenas uma invenção de alguns incels na internet? Não é tão simples assim. A solidão na Alemanha, especialmente desde a pandemia do coronavírus, é um problema real – e afeta todos os gêneros.
O Barômetro da Solidão de 2024 do Ministério Federal da Família e Proteção ao Consumidor mostra que o nível de estresse na Alemanha permanece alto. Desde o aumento durante a pandemia do coronavírus em 2021, o nível ainda está acima do de 2019.
O Barômetro da Solidão também mostra que as mulheres, tanto antes quanto depois da pandemia, forneceram informações que indicam que, em geral, são mais afetadas pela solidão do que os homens. A pesquisa também mostra que recursos financeiros limitados, histórico migratório e falta de tempo para contatos sociais podem contribuir para que as pessoas se sintam solitárias.
Um estudo internacional da BBC indica que as pessoas se sentem particularmente solitárias em sociedades onde é mais provável que as pessoas sejam deixadas à própria sorte, como a Alemanha, os Estados Unidos ou o Reino Unido. O estudo também constata que jovens entre 16 e 24 anos são particularmente solitários.
Se pessoas de todos os gêneros estão solitárias ou, como sugere o Barômetro da Solidão, são ainda mais as mulheres que estão sobrecarregadas, por que há tanta conversa explícita nas redes sociais sobre uma epidemia de solidão entre os homens?

Karsten Kassner, do Fórum Federal para Homens, também enfatiza que a solidão é um problema geral em nossa sociedade, que se intensificou durante a pandemia do coronavírus. O fato de os homens, em particular, frequentemente terem seus próprios problemas com a solidão não é novidade. Expectativas culturais profundamente enraizadas em relação à masculinidade existem há muito tempo e influenciam fortemente a maneira como os homens lidam com sentimentos, relacionamentos e até mesmo com a solidão.
Karsten Kassner
Homens do Fórum Federal
"Muitos homens ainda crescem com a ideia de que precisam descobrir tudo sozinhos", diz Kassner. "Eles muitas vezes não aprenderam a falar sobre suas próprias fraquezas e vulnerabilidades, ou carecem de relacionamentos sociais próximos, especialmente com outros homens, quando isso é possível. Nesse sentido, sentir-se sozinho é, de certa forma, o estado 'normal' da masculinidade."
Muitos homens têm amigos, mas quase ninguém com quem possam conversar sobre seus fardos emocionais, diz Kassner. A sociedade espera que eles sejam fortes, que não precisem de ajuda, que se administrem sozinhos e sejam independentes.
A proximidade física excessiva entre homens também é frequentemente tabu, vista como "pouco masculina" ou até mesmo desvalorizada como homossexual. Essas e outras experiências de socialização masculina fazem com que muitos meninos tenham dificuldade em reconhecer e expressar suas próprias necessidades e em lidar construtivamente com suas emoções mais tarde na vida, de acordo com Kassner.
Segundo Kassner, a questão da solidão nos homens não deveria ser uma questão de competição entre os sexos. No entanto, o fato é que muitos homens têm dificuldade em acessar emoções e manter relacionamentos sociais próximos, especialmente com outros homens. "Romper com as expectativas culturais de masculinidade e desenvolver as próprias habilidades emocionais e sociais não é fácil para muitos homens. Principalmente quando se enfrenta isso sozinho em seu próprio ambiente social", diz Kassner. "Meninos e homens precisam tanto de apoio quanto de incentivo nesse contexto."

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No entanto, é importante questionar esses estereótipos de masculinidade. A solidão pode ter efeitos negativos na saúde mental e física, levando a transtornos de ansiedade e depressão, por exemplo, ou até mesmo aumentando o risco de ataques cardíacos.
De acordo com um estudo da Fundação Bertelsmann, jovens que se sentem particularmente solitários tendem a ser mais insatisfeitos com a democracia e têm menos motivação para se envolver socialmente. A solidão entre grupos inteiros de pessoas, portanto, também afeta a convivência em nossa sociedade.
Kassner explica que homens inseguros, que têm pouca conexão social em seu ambiente e que se apegam a estereótipos tradicionais de gênero são um grupo-alvo particularmente popular para grupos extremistas de direita e antidemocráticos.
Kasten Kassner
Homens do Fórum Federal
Por exemplo, eles retratam a imagem de que as conquistas feministas e as mulheres modernas e de mente aberta são as culpadas pelo fato de os homens de hoje não conseguirem mais encontrar parceiras e permanecerem solitários. Esses grupos, portanto, oferecem soluções supostamente simples, sem forçar os homens a questionar sua socialização e sua imagem de masculinidade.
No entanto, o sexismo e os estereótipos tóxicos de masculinidade não podem ser a resposta para a solidão emocional e social que muitos homens vivenciam. Segundo Kassner, é muito mais importante que os homens cultivem amizades e relacionamentos nos quais possam se mostrar vulneráveis. Dessa forma, eles podem aprender a reconhecer e expressar suas próprias necessidades emocionais e encontrar uma maneira socialmente aceitável de lidar com elas.
"Espero que consigamos fortalecer uma masculinidade solidária nesse sentido como um modelo social novo e sustentável", diz Kassner. Porque os meninos também podem dizer uns aos outros que se amam às vezes.
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